terça-feira, 8 de outubro de 2013

Falta qualidade nas escolhas da alimentação fora de casa

Antônio Coquito*

Brasileiro está comendo mais açúcar, gordura e sal

O brasileiro come mal quando se refere à qualidade nutricional. A consequência da má alimentação é o crescimento de casos de câncer, doenças cardíacas, diabetes, hipertensão, obesidade, entre outros. Cerca de 70% da população fazem suas refeições em bares, restaurantes, lanchonetes e nos locais de trabalho e estudo. A realidade pode ser constatada na pesquisa sobre a Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Como comemos

Café da manhã, lanches rápidos, almoço e jantares. A vida cotidiana força à “alimentação na rua”. Os dados coletados pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde (MS) na Pesquisa Medidas Referidas para os Alimentos Consumidos no Brasil - Pesquisa de Orçamento Familiar (POF-2008-2009) mostram mudanças significativas no hábito alimentar. Arroz, feijão, café, sucos, refrigerantes e carnes bovinas continuam tendo seu lugar nas opções de alimentos.

A radiografia do hábito alimentar, constatada na POF, preocupa ao apontar o crescimento do consumo de açúcares, gorduras e sódio. Traduzindo: aumentou-se a ingestão de biscoitos recheados, salgadinhos, pizzas, doces e produtos com alto teor calórico e com insignificantes valores nutricionais. No contraponto, cerca de 90% dos brasileiros não consomem frutas, legumes e verduras, contrariando a orientação do Ministério da Saúde. Também tem sido extremamente baixa a ingestão de cálcio e vitaminas D e E.

Dados alimentares

O IBGE e o MS sinalizam que os hábitos dos brasileiros que vivem nas cidades concentram-se em salgados fritos ou assados (53,5%), pizza (42,1%) e sanduíches/hambúrgueres (41,8%). Ao lado desses dados, outros números preocupantes são os de bebidas em excesso: o consumo de destiladas (50%) e de não alcoólicas (47,9%). Já para a população que vive no meio rural, os dados apontam sorvete (56,3%), pizza (52,6%), salgados fritos e assados (48,4%), bebidas destiladas (26,4%), refrigerantes diet-light (31,5%) e o regular (36,5%).

Na zona rural, segundo informações do IBGE/MS, há grande consumo de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina (mexerica ou bergamota), peixes frescos, peixes salgados e carnes salgadas. Porém, nas cidades, os alimentos em alta são os prontos para o consumo e, ou, processados, como o pão de sal, biscoitos, iogurtes, vitaminas, sanduíches, pizza e salgados fritos e assados. Além destes, os refrigerantes, sucos e cerveja.

Essas informações se somam aos dados recém-divulgados pela pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011) que confirma a necessidade de mudanças nos hábitos alimentares. Os dados da Vigitel chamam a atenção para 49% da população brasileira com excesso de peso, configurado no alto consumo de refrigerantes e alimentos gordurosos.

Comportamento alimentar

O Instituto Data Popular averiguou o perfil do brasileiro que se alimenta fora de casa. De 65,3% da população, a classe C representa o maior percentual (54,6%). Seguindo, as classes D e E (20,6%) e as classes A e B (19,4%). Almoço, lanche, jantar e café da manhã: nessa ordem, estão as refeições feitas pelos brasileiros.

No conjunto das refeições, o almoço tem a maior concentração de pessoas. O fato se deve à jornada de trabalho levando a essa opção em ambiente externo à moradia. Do universo da pesquisa, as classes D e E correspondem a 69,5%. As classes A e B (69,2%) e a C (68,1%) realizam refeições fora do domicílio.

Os lanches são a segunda refeição com maior percentual. As classes D e E representam 61,3%. As classes A e B, 60,7%; a classe C, 57,2%. O jantar, que aparece como opção de lazer para os entrevistados, tem nas classes A e B o maior percentual (56,4%), seguido pela C (28,7%) e D e E (23,1%). Para o café da manhã, as classes D e E têm o percentual de 16,8%. Na segunda posição, aparecem as classes A e B, com 16,1%; e, na terceira, a C, com 10,9%.

Crianças e adolescentes

As informações da pesquisa IBGE-MS fazem um alerta, ou seja, uma de cada três crianças com idade entre 5 e 9 anos estão acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo MS. No caso dos adolescentes brasileiros, os índices identificam que, na faixa etária de 10 a 19 anos, houve um salto de 3,7% (1970) para 21,7% (2009) nos casos de sobrepeso e obesidade.

Foi identificado que população infantojuvenil consome pouco feijão, saladas e verduras. Os números afirmam que 50% dos adolescentes comem fora de casa e consomem salgados (industrializados, fritos ou assados), pizza, refrigerante e batata frita. Dos números, “o consumo de biscoitos recheados foi quatro vezes maior entre adolescentes. Já nos sanduíches, os adolescentes e jovens adultos consomem duas vezes mais que os adultos e idosos”, cita o documento.

A consciência da opção saudável

Os dados do IBGE/MS dão conta de um desafio nos hábitos alimentares saudáveis fora de casa. A conscientização centrada na boa educação alimentar deve ser uma atitude permanente, contribuindo para a qualidade de vida de todos nós.

Em relação às crianças e aos adolescentes, os profissionais de nutrição ligados à alimentação escolar têm papel fundamental ao desenvolver ações de conscientização pelos hábitos saudáveis junto aos estudantes, pais, trabalhadores da educação e população em geral.


* Jornalista, especialista em Marketing e Comunicação com Ênfase Temáticas Sociais, Cidadania e Direitos Humanos, Políticas Públicas, Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Socioambiental.

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