Alessandro Faleiro Marques*
Talvez pela costumeira falta de foco, incompetência ou por “ordens
superiores”, a imprensa nacional e até a estrangeira estão apontando
excessivamente os holofotes para o deputado federal que mais ganhou
votos no Brasil, o Dr. Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço
Tiririca. Nos últimos dias, as jocosidades diárias ganharam fôlego
depois de o Dr. Tiririca estrear na Comissão de Educação e Cultura da
Câmara. Logo ele, dizem alguns, suspeito de ser analfabeto e ter de
passar por um exame para comprovar o conhecimento da língua que ele e
nós usamos desde pequeninos.
A Carta de 1988 reforçou o direito de cidadãos se candidatarem a cargos
eletivos, respeitados alguns requisitos. Jornalistas, comentaristas e
pseudointelectuais estão com as lentes viradas para um único lado.
Doutor Tiririca, sustentado pela norma legal e moral, apenas exerceu seu
direito. Candidatou-se e foi votado. A maioria de nós tem essa
prerrogativa. Por parte desse artista, não houve coação de eleitores,
abuso de poderes econômico e político, sequer tinha a ficha suja, segundo os novos modelos (pelo
menos até agora).
Mais do que fazer chacota do parlamentar, os palpiteiros, profissionais
ou não, deveriam começar a analisar quem o mandou para Brasília: as
centenas de milhares de eleitores paulistas, muitos certamente nascidos
nos mais diversos cantos deste País. Gente que desconhece a importância
do processo democrático e vota por votar. Pela democracia é que estamos
assistindo ao sangue jorrar em várias partes do mundo, em especial no
Oriente Médio e Norte da África. Brincar com ela é zombar, e isso não
tem graça.
Sua Excelência disse que defenderá os direitos dos palhaços e apoiará a
causa dos circos. Lembro-me de que o caos em que se encontravam esses
locais de diversão foi tema até de um Globo Repórter. Alguém tem dúvidas
de que o espetáculo circense é uma louvável face de nossa cultura?
Questiono os motivos de não haver o mesmo rigor com outros políticos,
inclusive os escolhidos em outros tempos. Os palácios por este Brasil
estão cheios de “artistas”. De dono de castelo encantado a driblador,
dos que se acham deuses, grandes dançarinos ou cantores aos sonhadores
(talvez estes sejam até necessários), dos mágicos aos vilões. Numa
democracia, deve-se lembrar de quem foi votado e de quem votou, e ambos
devem cobrar e serem cobrados.
Doutor Tiririca, à Vossa Excelência os meus respeitos.
* Alessandro Faleiro Marques é professor, redator e revisor de textos. Texto original publicado no site Caos e Letras (www.caoseletras.com).