sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Campanha contra a intoxicação digital

Alessandro Faleiro Marques*

Como educador, cada vez mais me convenço de que existe o “emburrecimento”, ou seja, o lado oposto da aprendizagem, do crescer não só acadêmico, mas de espírito e sabedoria. Obviamente, nos meus tempos de faculdade, nenhum dos meus mestres ousou tocar no assunto do processo da desinteligência. Isso nos desanimaria? Seria um segredo só para os já iniciados?

Uma das causas do mal é a ingenuidade, o deslumbre débil diante de certas inovações. Outro dia, li um artigo dizendo que adiantou pouquíssimo encher de computadores as escolas. Fiquei impressionado com o fato de isso ter aumentado os casos de déficit de atenção. Em resumo, o projeto de abarrotar de aparelhos as salas de aula só serviu para dar mote para propaganda governamental, atrair pais e alunos (chamados de clientes pelas grandes e pequenas redes de colégios) e para encher a cabeça de crianças e adolescentes de muita, muita toxina digital. São tantas informações que os neurônios da moçada estão dando curto-circuito. O intento, de princípio bom, ainda saciou o desejo de orgasmo pedagógico de alguns mais “empolgados”, achando que a simples eletronização didática colocaria a escola e os jovens “ligados ao mundo e à modernidade”.

Apesar do encantamento, houve pouco ou nenhum preparo dos educadores para melhor aproveitarem o recurso, sobretudo para o uso da internet. Os jovens também não foram preparados. Adolescentes, crianças e adultos ficaram apenas boquiabertos com a tecnologia e, estéreis, entregaram-se a ela. Valorizou-se muito o meio, não o fim.

O excesso de dados entope a cabeça das pessoas. É um fenômeno comum na Pós-modernidade, tempo marcado pela rapidez, mosaiquices e descarte fácil de coisas, ideias e pessoas. Cabeça entupida é mundo caótico, não contemplativo... existindo só porque nasceu.

Em vez de só reclamar, ouso sugerir uma “Campanha de Desintoxicação Digital”. Selecione suas leituras, seja frio. Descarte o inútil, veja o essencial. Faça o jejum cibernético e veja se realmente é essencial para sua vida a avalanche de textos, piadas, álbuns, fofocas, gráficos e infográficos.

Sejamos seletivos, questionadores e preocupemo-nos em colocar no devido lugar o útil mundo digital. Diga sim ao olho no olho, ao inteligenciamento, às luzes. Desintoxique-se!


* Alessandro Faleiro Marques é professor, redator e revisor de textos. Texto original publicado no site Caos e Letras (www.caoseletras.com).