terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O presépio é feio


O presépio em si é feio! Feio mesmo! Uma criança que nasce em um cocho, no meio dos animais, num curral! Pai e mãe excluídos, sem plano de saúde, sem teto, sem agasalho e contando apenas com o bafo dos bichos para se aquecerem. As primeiras visitas: um bando de desconhecidos, os então malvistos pastores.

Aos olhos da fé, contudo, o presépio é lindo. Mas, como a legítima espiritualidade, é comprometedor. Após o parto, a mãe envolve o recém-nascido em faixas. O amor cabe em qualquer lugar. Para a decepção dos caçadores cegos de prosperidade, Jesus menino vem pobre, paupérrimo, humilhado, e morre como tal.

É cena desconcertante para quem acha que os sem-tudo são todos vagabundos, e pronto. “E não havia lugar para eles.” Um incômodo para quem, sazonalmente comovido diante do arranjo moldurado por musgos e festões, um dia acaba descobrindo que ainda há crianças nascendo em comedouros de animais, em estábulos, em corredores frios, na rua e em barracos de lona e bambu. Porque não há lugar para eles.

A sagrada estrebaria é um inconveniente aos emocionados com o menino no cocho enfeitado e, ao mesmo tempo, odiosos a quem luta pelos pequenos de hoje não nascerem assim.

Na beleza da fé, um santo, encorajador e feliz Natal!