Alessandro Faleiro Marques*
Os
adeptos dos orgasmos pedagógicos que me desculpem, mas uma notícia na
tevê me deixou com um nó nas entranhas. Um livro didático distribuído
pelo governo de Minas Gerais para alunos do ensino fundamental trazia um
texto cheio de palavrões, termos chulos, tabuísmos e tudo mais que o
eufemismo tenta aliviar. A justificativa: os personagens precisariam
disso para poder criticar uma situação excludente. Confesso: tive de
rever a notícia para acreditar. E o pior, a polêmica se deu também em escolas
públicas de outros estados, em obras aprovadas pelas respectivas
secretarias de Educação.
O mais bizarro disso, deixando-me
boquiaberto, é alguns educadores aprovarem a ideia. Felizmente foi a
minoria. Nenhum governante pediu minha palavra, apenas cobrou de mim os impostos
para financiar essa aberração, mas ressalto: é um absurdo! Sou um cafona
assumido em algumas questões educacionais. Sou dos bons tempos da
escola ensinando coisas boas. Os educadores andavam bem arrumados (mesmo
ganhando mal), emanavam sabedoria e se davam respeito. Aprendi muita coisa com o exemplo
deles. Sou testemunha de que o ensino não verbal também é importante num
ambiente nobre como eram as escolas públicas onde estudei.
Para
mim, não serve a desculpa de ser a vida fora da escola cheia de mazelas e
de fatos pouco publicáveis. Disseram que os alunos devem aprender da
realidade. Outro disparate! Se fosse assim, por que estudar sobre a neve
(clássico exemplo) ou sobre o Saara? Não pertencem ao nosso cotidiano.
Não me lembro de ter trocado tiros com meus colegas para aprender sobre
as guerras. Senhores educadores, voltemos às origens (as boas, é claro).
Esqueçamos um pouco o governo e algumas teorias só teóricas. Sejamos
verdadeiramente mestres por dentro e por fora.
Quanto ao livro
esquisito, gostaria de solidarizar-me com pais, educadores e alunos
(sim, eles também) que desaprovaram a asneira. Ânimo! Vamos continuar
fazendo tudo para ver se essa geração de boné na cabeça e bermudão tenha
o mínimo de valores. Não deixemos de lado a escola, apoiemos as boas
iniciativas dela e continuemos a cobrar dos nossos governantes mais
investimentos para a nossa juventude.
* Alessandro Faleiro Marques é professor, redator e revisor de textos. Texto original publicado no site Caos e Letras (www.caoseletras.com).
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