quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O palavrão do livro didático

Alessandro Faleiro Marques*

Os adeptos dos orgasmos pedagógicos que me desculpem, mas uma notícia na tevê me deixou com um nó nas entranhas. Um livro didático distribuído pelo governo de Minas Gerais para alunos do ensino fundamental trazia um texto cheio de palavrões, termos chulos, tabuísmos e tudo mais que o eufemismo tenta aliviar. A justificativa: os personagens precisariam disso para poder criticar uma situação excludente. Confesso: tive de rever a notícia para acreditar. E o pior, a polêmica se deu também em escolas públicas de outros estados, em obras aprovadas pelas respectivas secretarias de Educação.

O mais bizarro disso, deixando-me boquiaberto, é alguns educadores aprovarem a ideia. Felizmente foi a minoria. Nenhum governante pediu minha palavra, apenas cobrou de mim os impostos para financiar essa aberração, mas ressalto: é um absurdo! Sou um cafona assumido em algumas questões educacionais. Sou dos bons tempos da escola ensinando coisas boas. Os educadores andavam bem arrumados (mesmo ganhando mal), emanavam sabedoria e se davam respeito. Aprendi muita coisa com o exemplo deles. Sou testemunha de que o ensino não verbal também é importante num ambiente nobre como eram as escolas públicas onde estudei.

Para mim, não serve a desculpa de ser a vida fora da escola cheia de mazelas e de fatos pouco publicáveis. Disseram que os alunos devem aprender da realidade. Outro disparate! Se fosse assim, por que estudar sobre a neve (clássico exemplo) ou sobre o Saara? Não pertencem ao nosso cotidiano. Não me lembro de ter trocado tiros com meus colegas para aprender sobre as guerras. Senhores educadores, voltemos às origens (as boas, é claro). Esqueçamos um pouco o governo e algumas teorias só teóricas. Sejamos verdadeiramente mestres por dentro e por fora.

Quanto ao livro esquisito, gostaria de solidarizar-me com pais, educadores e alunos (sim, eles também) que desaprovaram a asneira. Ânimo! Vamos continuar fazendo tudo para ver se essa geração de boné na cabeça e bermudão tenha o mínimo de valores. Não deixemos de lado a escola, apoiemos as boas iniciativas dela e continuemos a cobrar dos nossos governantes mais investimentos para a nossa juventude.


* Alessandro Faleiro Marques é professor, redator e revisor de textos. Texto original publicado no site Caos e Letras (www.caoseletras.com).

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